sábado, 24 de abril de 2010

Eu e ela.

Ela é seis ou sete anos mais velha que eu. Estudamos juntas, ela veterana e eu caloura, mas sempre gostei dela desde pequena, quando nossos pais nos traziam para Muriqui em nossas férias.
Ela namorou meu irmão que também estudava no mesmo colégio, só que em outro estabelecimento. Ele de São Cristóvão e ela no Engenho Novo, onde com um medão enorme, eu também fui estudar. Em meu primeiro dia de aula, ela lá estava como uma irmã mais velha a me ajudar a vencer o medo de conviver com aquelas pessoas um pouco mais velhas que eu e que me faziam de bobinha.
Ela me ensinou a vencer o medo e a gostar de pessoas aparentemente tão diferentes de mim.
Quando terminou seu curso e foi para faculdade, a distância foi inevitável e nos perdemos em nossa caminhada por alguns anos. Quando a reencontrei, foi aqui em Muriqui e percebi que minha amizade por ela continuava a mesma.
Sua vida é completamente diferente da minha e tão igual!
Ela já é avó e eu....não sou mãe. Ela gosta de bermuda e rabo de cavalo e eu...não posso ainda me dar a este luxo.
Ela é tranquila e se deixa levar pela vida. E eu? Sou agitada, antipática e tenho que moldar minha vida.
Por vezes, passamos dias e até semanas sem contato visual, mas nos "falamos" todos os dias pela internet.
Ela me ajuda mais do que eu mereço, e em troca, a chamo de irmã.
Ela curte nosso paraíso, vivendo aqui com seus netos. E eu? Eu moro aqui, porém vivendo na distância de meu local de trabalho.
Agora, onde nós somos iguais? Em nosso amor pelo próximo, pela vida, por amizades duradouras, por nos reconhecermos como aquelas garotas que jogavam na quadra de esportes de nosso colégio, pelas lágrimas das perdas que passamos juntas, por nossas vitórias e por tantas gargalhadas que já demos e que ainda daremos das furadas em que sempre nos metemos.

Ela não sou eu, mas não me importo que pensem assim. Tenho orgulho de ser cria dela e se com isto, for preciso perder outros bons amigos, não me importo.

Vale a pena!

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Cidadão comum

"Nasci em um Abril ensolarado, daqueles de rachar a pele, na Maternidade Santa Terezinha, em São João de Meriti.

O ano? 1984. Ano em que o Brasil viveu o grande comício pedindo Diretas já!

E eu com seis dias de vida, só queria Direitos já!

Minha mãe, coitada, era uma mulher que não tinha a menor curiosidade em vislumbrar o futuro e aí, quando eu completei três dias de vida, me entregou a uma senhora, que por sua vez iria entregar-me a um casal que não podia gerar filhos.

Os três dias que passei em sua companhia foram simples, cheios de leite e muito barulho no apartamento que vivia com outros tantos parentes.

Meu irmão, pouco maior que eu e minha irmã, também viviam naquele caos.

Meu pai, não sei quem é, ou melhor, nem sei se foi um homem que me gerou, pois me parece que sou filho do espermatozóide que no saco comanda as ações daquilo que caminha, se alimenta, transa e depois dorme tranquilamente.

Foram três dias intensos, no subúrbio do Rio de Janeiro. Minha avó, D. Sebastiana morava em um conjunto habitacional com outros filhos e minha mãe. Era aperto no sentido físico mesmo e aperto de grana e alimentos.

Na verdade, sou a foda mal dada que tanto acontece no Brasil. Carmem Lúcia e João Vitor, meus irmãos, nunca mais soube notícias, e de minha mãe, ninguém se lembra do nome. Depois de meu nascimento, parece que minha mãe não aprendeu nada em relação à fuder, pois tenho notícias bem truncadas de que outros “eus” vieram ao mundo.

Mais crianças geradas pela vontade do saco e da insistência do espermatozóide.

Maternidade Santa Terezinha, Rocha Sobrinho, conjunto habitacional, D.Sebastiana, prédio com uma imagem de S.Sebastião, Carmem Lúcia e João Vitor, são as memórias dos três dias que me alimentei gratuitamente nos seios da mãe sem nome que me gerou."

Cidadão comum

Em Janeiro, recebi este texto de um desconhecido e troquei alguns emails com a pessoa, que se identificou como rapaz, 26 anos e que entre outras coisas, escreveu um trecho do início de sua biografia.

Tentei que ele mesmo publicasse em forma de blog, mas ele disse que não tinha disciplina para isto e se eu poderia fazer isto por ele.

Assim o fiz. Fiz uma conta só para ele e conforme me enviava os emails, eu publicava neste blog.

Foram somente três postagens e depois ele sumiu. Me lembrei disto, lendo o blog do amigo Lacerda que perguntava por uma blogueira que acompanhamos e que parou com as postagens. Então, como ele mesmo diz, dei uma lambida em seu blog e postei este assunto que estava adormecido.

Menino, peço que continue a escrever, seja sua vida ou não. Eu gostei, e se for sua biografia, creio que te fará bem!

Quando te vi

Había campanas en una colina
Pero nunca las oí tocar
No nunca las oí en absoluto
Hasta que llegaste tú
Había pájaros en el cielo
Pero nunca los vi volar
No nunca los vi en absoluto
Hasta que llegaste tú
Luego había música
y rosas maravillosas
Que me dicen en dulces y fragantes
praderas de amanecer y tú
Había amor por todo el alrededor
Pero nunca lo oí cantar
No nunca lo oí en absoluto
Hasta que llegaste tú
Luego había música
y rosas maravillosas
Que me dicen en dulces y fragantes
praderas de amanecer y tú
Había amor por todo el alrededor
Pero nunca lo oí cantar
No nunca lo oí en absoluto
Hasta que llegaste tú
Hasta que llegaste tú.

Meredith Wilson

Mulheres que fazem minha cabeça.

Conclusões de Aninha

Estavam ali parados. Marido e mulher.
Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça
tímida, humilde, sofrida.
Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,
e tudo que tinha dentro.
Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar
novo rancho e comprar suas pobrezinhas.

O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,
entregou sem palavra.
A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,
se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar
E não abriu a bolsa.
Qual dos dois ajudou mais?

Donde se infere que o homem ajuda sem participar
e a mulher participa sem ajudar.
Da mesma forma aquela sentença:
"A quem te pedir um peixe, dá uma vara de pescar."
Pensando bem, não só a vara de pescar, também a linhada,
o anzol, a chumbada, a isca, apontar um poço piscoso
e ensinar a paciência do pescador.
Você faria isso, Leitor?
Antes que tudo isso se fizesse
o desvalido não morreria de fome?
Conclusão:
Na prática, a teoria é outra.

Cora Coralina

Cora Coralina é uma destas mulheres que saem do anonimato por acaso, simplesmente por ter tido a coragem de olhar para o seu melhor e se deixar levar pelas palavras e pelos olhos ávidos de sentir.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

A titica!

Também conhecida como fezes, cocô, geralmente de aves. Também pode ser relacionada a coisa sem valor, sem importãncia.

Hoje, a despeito de todo meu esforço em não pensar em titica, é a palavra que me vem a cabeça a todo momento. Titica cerebral, titica moral, titica de vida e titica de gente, incluindo a mim nesta classificação.

Acordei e imediatamente pensei em titica. Horrível, abrir os olhos e ver a titica se amontoando em forma rude de organização mental.
Pensei que teria que enfrentar a titica mental dos sobreviventes que me cercam e que teria que guardar esta palavra a cada contato que fizesse, pois só ela definiria com exatidão o que estou sentindo.

Pessoas que sorriem para você e na verdade estão entiticadas de tuas reações.
Pessoas que correm em se mostrar "inteligentes" e "antenadas" e estão entiticadas de que outros percebam sua fragilidade moral e ética.

E ainda terei que conviver com pessoas que concordarão com tudo que se fala e no entanto, são por sua própria natureza, titicas humanas que sobrevivem a custa de seus temores.

E as titicas arrogantes? E as titicas mau-caráter? E as titicas oportunistas? E as titicas acomodadas?

Sem falar nas titicas públicas, sorridentes que nem percebem o mau cheiro que exalam de suas almas!

Pensei também na titica da falta de dinheiro. Pensei na titica dos noticiarios. Corri da titica dos jornais e me escondi das titicas familiares que me trarão outras titicas para expurgar de nossas vidas.

A pior titica de hoje, será conviver com minha titica cerebral, que cansada, já está precisando de estímulos externos para se recompor.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

PÁSCOA

Estamos chegando ao grande momento da celebração da Páscoa e todos os cristãos deveriam se preparar para esta comemoração.
Talvez tenhamos deturpado ao longo dos anos o sentido tão legal desta celebração.
Penso que Páscoa, sem tentar explicar ou relatar sua origem, é o maior momento do cristianismo, com nossa fé renovada e absolutamente confiantes no amanhã.
Ao longo do ano canônico (para os católicos) viveremos esta celebração por dois meses até Pentecostes (chegada do Espírito Santo).
E como vivemos esta terapia, reflexão, fé, simbolismo ou o nome que queiram dar?
Eu procuro viver este momento com esperança. Não consigo ser tão alegre, não consigo pensar só espiritualmente. Eu vivo incorporando mais e mais minha individualidade me inserindo na coletividade.
Nesta época, sou mais humana, sou menos intransigente e faço um esforço extremo para sentir e aceitar o outro, como a mim mesma.
São dois meses que vivo plenamente minha busca interior. São dois meses que me relaciono calmamente comigo. São dois meses que interajo plenamente com o meu igual e com os meus desiguais.
É o período que fico grávida de mim mesma, em uma gestação de dois meses onde concebo a cada ano a nova pessoa, cujos antepassados sou eu mesma.
É nesta época que sou eu e minha alma penetrando nas dores e alegrias de todos para que possa viver com verdadeira certeza aquilo que chamam cidadania, e que eu denomino de sentido cristão, humanitário e pleno.

Assim, desejo a todos uma feliz páscoa e um excelente feriado!