terça-feira, 21 de junho de 2011

Um político, um homem - Tenacidade e convicção


“ não fui eleito para estar deputado por 4 anos, mas para ser deputado enquanto aqui estiver. Eles que se expliquem, perante a história, por suas atitudes”.



Em minha opinião de tiéte, este foi o melhor parlamentar deste país...

Um dia destes, fiz um comentário no blog do Lacerda, sugerindo que o título de seu texto fosse "Tenacidade e Convicção" e apesar dos motivos diferentes, penso que esta minha postagem também deveria ter este título.

Tempos diferentes, motivações diferentes, mas a capacidade de reagir ao ilegítimo e ao massacre social, são características que não podem faltar a ninguém, muito menos a um parlamentar.

Lysâneas Maciel me apresentou os "sonhos" de uma vida mais produtiva e se fez o ideal de político, que espero que algum dia possamos reproduzir....

Na época em que eu era uma estudante, Jarbas Passarinho era ministro da Educação. Eu que estudava em um cólegio, que apesar de federal, foi e ainda é capaz de provocar a capacidade de pensar", mesmo que hoje, os objetivos finais sejam diferentes da época em que por lá passei, dos 10 aos 16 anos, tínhamos como parte de nossa rotina escolar extra classe, os encontros de militância estudantil. E me lembro que um dia, o ministro foi convidado para "acalmar" os ânimos da garotada e nós, que amávamos os Beatles e a política, vaiamos por alguns intermináveis segundos o ministro, ao final, levantamos um cartaz com o nome de Lysâneas Maciel, como nosso candidato.

E a maioria ali, nem votava.... mas, tudo isto fizemos, por sabermos que Jarbas Passarinho detestava Lysâneas Maciel e o chamava de "inimigo da humanidade", por sua força em discursos e pronunciamentos que nos levavam aos tão desejados "sonhos" de dias melhores.

Claro que tudo isto teve consequencia, mas nada que um bom grupo de jovens, não pudesse arcar, quando são muitos e convictos do que querem.

Veja que delícia de texto de Lysâneas Maciel:

"Conheci Lysâneas por suas histórias, do homem indomável, audacioso, simpático e aguerrido companheiro. Com a construção do PT tive o prazer de militar a seu lado.
Muitas decisões, polêmicas e famosas, tiradas em reuniões da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), alimentavam o setor dos Deputados autênticos do antigo MDB.
A de 1976, em Brasília, foi aberta em clima tenso, no início de abril, na mesma data em que o Governo Geisel usava o AI-5 para cassar três deputados federais.

Em 29 de março, Nadir Rossetti e Amaury Muller ( meu camarada de Ijuí/RS) fizeram discursos no interior do Rio Grande do Sul criticando o regime. Foram cassados.
Os autênticos então resolveram repetir o gesto da tribuna da câmara, em Brasília, buscando um processo de enfrentamento.

Ulysses e Tancredo intervieram, os convencendo a não se manifestar. Reunião tensa do grupo decidiu que ninguém deveria ir à tribuna. Geisel ameaçara cassar todos que fizessem isso. Lysâneas Maciel se revoltou e decidiu descumprir a orientação do grupo.
Enviou cópia do documento a ser pronunciado no dia seguinte para a gráfica da Câmara Federal, como de costume.
Discursos estes que passavam pelo crivo do serviço de censura do regime militar. Logo a casa toda estava alvoroçada com a notícia. Lysâneas iria falar.
Sofreu pressão de Ulisses Guimarães e Tancredo Neves, e da base de seu grupo (os autênticos) que já naquele momento fugia ao enfrentamento.
Foi então procurado pelos homens de óculos “ray-ban”, que o interpelaram afirmando que não fizesse aquilo, pois seria cassado.

A imprensa sabendo do fato, foi toda no dia do pronunciamento, "convencer" o deputado a não faze-lo, alegando também que o mandato estava começando e que não valeria a pena seu encerramento, pois as tropas federais já estavam a postos aguardando o momento de prende-lo.
Foi quando Lysâneas Maciel afirmou “ não fui eleito para estar deputado por 4 anos, mas para ser deputado enquanto aqui estiver. Eles que se expliquem, perante a história, por suas atitudes”.
Sozinho na câmara, subiu ao plenário, com ele estavam todos os lutadores deste país, apresentou o documento e foi cassado.

Virei fã de carteirinha. Um exemplo a seguir.!!!!!!!
Sempre criticou o regime ditatorial militar e lutou pela redemocratização do país, a abolição dos instrumentos excepcionais, a liberdade sindical, a convocação de uma Assembléia Geral Constituinte, a abolição da censura à imprensa e pelas eleições diretas em todos os níveis.
Foi candidato a Governador do Estado do Rio de Janeiro em 1982, pelo Partido dos Trabalhadores, depois de uma forte campanha popular, que ecoava nas greves e atos e reuniões do movimento, com o dizer “Lysâneas no PT”, que eu também ajudei a gritar, rs.

Lutou pelas questões ligadas aos direitos humanos, devendo ser recordado pronunciamento que fez contra a proibição, pelo Serviço de Censura Federal, da melodia "Apesar de Você", de Chico Buarque. Um verdadeiro poema seu pronunciamento!!

Lysâneas Maciel nasceu em Patos de Minas. Advogado e jornalista com pós-graduação em Legislação do Trabalho (Universidade de Mariland, Estados Unidos da América) e em Terceiro Mundo (Universidade de Genebra, Suiça). Foi Deputado Federal pelo MDB e PDT.

O Deputado Chico Pinto afirmou, "Lysâneas sempre foi o melhor e o maior entre nós. Pelo seu destemor e ousadia, pela sua garra, dignidade, postura política e humana, pela sua generosidade ... Nenhuma mulher há de parir um outro Lysâneas".
Faleceu em 6 de dezembro de 1999 no Rio de Janeiro (RJ).


Lysâneas Maciel, também atuou na Constituinte e o danado não dava trégua a qualquer tipo de concessão ao regime militar e a posicionamentos antidemocráticos e insensíveis.

É, não sei se não se consegue políticos desta categoria por falta de frutos da sociedade, ou a sociedade não dá bons frutos por não termos mais políticos convictos, capazes e maravilhosamente idealistas.


2 comentários:

  1. Militamos no PDT, desde a fundação do partido até que ele foi para o PT. Quando foi candidato a governador, votei em Brizola. Quando voltou para o PDT, pude finalmente votar nele para deputado federal.

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  2. Lacerda,

    Sabe,queria ser mais adulta na época da ditadura. Acho que teria sido diferente para mim.
    Talvez escrevesse mais realisticamente,pois tudo era tão nebuloso e tomávamos atitudes com tantos sonhos. Um de meus irmãos, era uma enciclopédia da ditadura e eu absorvia tudo com coragem de "moça grande".
    Hoje, vejo meninas desta mesma idade, só sacudindo o bum bum e querendo um deformadinho social para mostrar status.

    É, tempos duros que vivi minha adolescência, mas como foram importantes para minha formação.

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