domingo, 29 de novembro de 2009

Roda Viva, Roda ainda muito Viva

Tem dias que a gente se sente,
Como quem partiu ou morreu,
A gente estancou de repente,
Ou foi o mundo então que cresceu.

A gente quer ter voz ativa,
No nosso destino mandar,
Mas eis que chega a roda viva,
E carrega o destino pra lá.

Roda mundo, roda-gigante,
Roda moinho, roda pião,
O tempo rodou num instante,
Nas voltas do meu coração.

A gente vai contra a corrente,
Até não poder resistir,
Na volta do barco é que sente,
O quanto deixou de cumprir,
...

Êta saudade de tempos que "apesar dos vocês", existiam ídolos de alguma causa.
Ídolos que muitas vezes tiveram seus feitos esvaziados ao longo da caminhada, mas que valeram para ensinar meninas, meninos, jovens e adultos a levantar os olhos e encarar a vida como um todo e não por partes dissociadas do conjunto.

Este tipo de letra em nossas músicas, peças de teatro e atitudes concretas, influenciaram muita meninada, foi o uso correto do talento natural do brasileiro em "burlar", era o jeitinho brasileiro necessário e útil que fazia piada com os imbecis censores e as travestidas leis de um governo que serviu e ainda deixou herança para os desprovidos de senso coletivo.

Fui menina que nem sabia o que estava acontecendo, mas que admirava irmãos e amigos que me permitiam ouvir conversas inflamadas contra os "burros" comandantes de nossas vidas.

Amei apaixonadamente todo rapaz que se despojara de roupas que transmitiriam sua classe social, admirei com a "santa inveja" toda moça que falava em minha escola, sobre assuntos, que nós as pequenas nem entendiam, mas soavam como doces contos de rebeldia.

É, em tempos de miséria cultural, nada como ouvir músicas que ainda são tão atuais e deixar que os pequenos que nos rodeiam, assimilem a mensagem por osmose.

8 comentários:

  1. Estou passando exatamente por isso,

    Prestando muito atenção em tudo que a minha mãe me passa, seus valores, seu caráter e até os gostos musicais.Percebo que me tornarei um adulto que defenderá o que quer...Ela sempre me diz que espera que eu seja um adulto melhor que ela, que tenha mais coragem de defender o bem pq ela foi criada em uma época que não podia falar muito.Valeu por fazer eu entender que o que acontece comigo é uma OSMOSE.rs

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  2. Você me fez lembrar de uma prova de português na Faculdade de Comunicação. A música do Chico era sucesso na época. O espetáculo Roda Viva havia sido atacado pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas) em São Paulo. Artistas foram agredidos covardemente. Tudo com a conivência da ditadura.
    E caiu na prova a pergunta mais ou menos assim: "O que está gramaticalmente errado na letra da música Roda Viva?"
    De cara, vi que o professor se referia ao emprego do verbo ter como sinônimo de haver ou existir. O verbo ter somente pode ser empregado como possuir.
    Fã incondicional do Chico Buarque - um baluarte na luta contra a ditadura - respondi que não havia erro algum.
    Justifiquei dizendo que o "tem" da letra não estava no plural para concordar com "dias". E, portanto, o que o Chico quis dizer em sua poesia foi que "A gente tem dias que se sente". Um artifício muito usado em poesia para manter a métrica e o rítmo do canto na melodia, tal como fez Joaquim Osório Duque Estrada na letra do Hino Nacional:"Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico o brado retumbante."
    Osório queria apenas dizer que: "As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico."
    O professor aceitou o argumento e a questão foi anulada.

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  3. Lacerda,
    Tenho uma admiração por todos os que dominam a língua portuguesa.
    Nunca foi o meu forte! A gramática é uma luta em minha vida. Dá para o gasto, mas tenho pavor dos erros que cometo. E por esta dificuldade, me dediquei a ciências exatas para justificar minha falha, afirmando que minha lógica é mais acentuada que minha capacidade de aprender gramática.
    Argumentação como esta que usou, jamais passaria por esta minha ineficiente e ignorante cabeça usuária da língua portuguesa.

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  4. Zé Verdinho,

    É osmose mesmo! È transporte passivo, sem dispender energia pelas células. rsrsrs
    Vai entrando, vai assimilando, até que os corpos encontrem a mesma concentração..... de informações. rsrsrsrs

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  5. Roda viva,Pra não dizer que não falei
    das flôres,ponteio,arrastão, carolina e tantas
    outras canções maravilhosas que fizeram até
    pessoas que como eu pouco estudou,meditarem sobre
    o que se passava no paíz
    Infelismente as cancões de hoje, não tem o mesmo
    sabor, e o mesmo aprendizado.

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  6. É, falta a "causa', falta motivação, falta indignação!
    Mudou o conceito de vida e com isto mudaram também as formas de expressão.
    O funk original, era a voz que faltava em comunidades assombradas por desesperança, foi abraçado pelo tráfico, que representa o poder nas comunidades e acabou deixando de ser voz para ser somente uma forma de expressar a única coisa que não se pode reprimir, que é a sexualidade exacerbada e distorcida de quem conhece poucos prazeres da vida.
    E isto não acontece só com o funk, o pagode comercial sem raíz, as ditas sertanejas, as urbaninhas que não consigo nem identificar o que são, também pouco dizem ou representam para nós, os mais "usados", mas que são o reflexo da realidade do hoje.
    Gosto muito do "hoje" e não sou saudosista, mas que assusta, isto assusta!

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  7. Assusta saber que gerações e gerações podem ser manipuladas se não houver opção. Ligar uma TV e só ouvir falar que uma nova "fruta" nasceu, que o ònibus foi queimado, que o mensalão voltou em forma de "panetone", que a cerveja é a única opção para ser feliz(já que o carro é inaxessível). Ligar um rádio e ouvir letras que sequer encaixam-se nas músicas, onde amores desrespeitosos viram hino da garotada. É aí, que gerações bradam em favor de milícias, de bandidos com poder e guando votam dá no que dá. Nunca na história da humanidade houve mudanças sem causa...o problema esta na educação e nos valores que hoje se grita nas ruas. "Grito gritado"(licença poética)na maioria das vezes, por formadores desta nova geração.

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  8. Correção: Inacessível e não inaxessível como postei.

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