sábado, 14 de novembro de 2009

Uma imagem vale mais ......

















Achei esta foto em uma comunidade que acompanho.
Todas as vezes que percorro os tópicos, dou uma olhada nesta foto e paro nela, olho por todos os ângulos, me deixo imaginar como eu calçaria estas "Havaianas".
Chego à conclusão que não calçaria! Simplesmente por não ter esta capacidade e decência.

As primeiras palavras que meus olhos me enviaram, foram: miséria, dignidade, criatividade, respeito e direitos.
Meus olhos sem fome viram primeiro a miséria, para depois perceberem a dignidade que não pode ser roubada.

Passados mais alguns segundos, os olhos mais iluminados, perceberam a criatividade que supera as adversidades. Só depois é que o respeito foi identificado neste ato, que obriga a percepção de que o direito de oportunidades e de cidadania não pode ser de tão poucos.

Amo este pés que pisam com força na sujeira de nossa omissão, de nossa permissividade que nos levam a banalizar o que não é normal, natural e devastador.
Amo estes pés que sustentam o meu desconhecido superior que maltrata meus olhos e me faz retornar ao sentido real da vida.
Amo este pés que fazem com que uma ligação direta seja feita do raciocínio a emoção.

13 comentários:

  1. Eu já tinha visto esses pés africanos, creio que da Nigéria. Mas, não fui capaz de vê-los com tanto sentimento. Olhei-os apenas com olhos de tristeza e pena.
    Você está sempre abrindo meus olhos biônicos para outras visões da vida.

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  2. Lacerda,
    Eu só penso que estes pés são meus vizinhos, nem sabia que poderiam ser de tão longe.
    Acho que eles sobem bem nossas favelas, ou melhor, comunidades carentes (para ser políticamente correta) de todo nosso país.
    Penso que eles não vão sofrer quando caminharem por nosso nordeste..... e aí, depois de tua informação, chego a conclusão que são pés universais.

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  3. Por favor, não compare a miséria africana com a nossa. Sabe aquela foto do africaninho magérrimo sentado no chão, rodeado de insetos, olhos apagados, sm qualquer brilho? E ao lado dele, está pousado um abutre olhando-o fixamente e aguardando o último suspiro do menino?
    Eu lembro sempre dessa foto quando vejo os "miseráveis" das nossas favelas ou comuidades carentes, todos felizes, saudáveis e bem nutridos, nas reportagens da TV ou quando vou à favela visitar um amigo.

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  4. Não comparei! Miséria é miséria com menos ou mais intensidade.
    Claro que poderíamos "agradecer" por nem passar perto de tais condições de sobrevivência, mas não consigo comparar algo ruim com algo pior. Isto ajuda a passividade e tudo que nos faz acomodados, também faz com que sejamos manipulados.
    Penso que nossa miséria é mais amena no quesito fome, que tira a força física, que diminui a capacidade de combate, que leva ao suspiro de abandono.
    A nossa miséria não extermina, a nossa miséria banaliza a ignorância e leva a não percepção dela própria. Acostuma-se!

    Qual é a mais dolorosa? A que terá um fim por sua própria condição exterminadora, ou a que transforma a igualdade e os direitos individuais em algo inantigível?

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  5. Jamais esqueci que fui muito pobre. Lembro-me do tempo em que usava tamanco. A roupa era costurada pela minha mãe com retalhos da Fábrica Bangu. Bebia água da moringa, não tinha geladeira. O fogão lá de casa era a carvão, e, também, o ferro de passar roupa. Dormia na esteira feita de junco. Comia em prato de alumínio. Bebia água na caneca. Não dava para beber Coca-Cola. Tomava banho com sabão português. Sabonete nem pensar.
    Colhia cará nas cercas vivas para ensopar com bofe. Catava caruru no mato para variar o cardápio de sempre: arroz e feijão com bucho ou carne-seca. Naquele tempo, carne-seca era comida de pobre.
    Fruta era jamelão. Meu Deus! Como eu comi jamelão. Em frente a minha casa havia um enorme pé de jamelão. Comia trepado lá em cima. Era cada cacho imponente que eu imaginava ser de uva. Achava lindo, depois, a língua, os dentes e a saliva de um roxo admirável.
    Brinquedo era pião e bola de gude. Papai Noel não passava lá em casa.
    Leila, a miséria de antigamente era bem pior. Não posso deixar de comparar. Mas, eu era feliz e sabia disso.

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  6. Que miséria bonita! Não concordo que a miséria de antigamente era pior.
    Você só me falou de coisas naturalmente agradáveis. Que miséria é esta que frutifica homens deste naipe?

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  7. So falei coisas agradáveis? Então, lá vai.
    No meu tempo de miséria, a mortalidade infantil era 350 vezes superior à de hoje. Tive duas irmãs que morreram aos três meses de idade. Não havia tratamento de água e a publicidade da Nestlé (leite em pó) contribuia consideravelmente para os altos índices de mortalidadd infantil. Éramos todos infestados de lombrigas. O esgoto corria a céu aberto em minha rua onde moravam famílias de tuberculosos. Não existiam postos de saúde. Havia muito mais parteiras e rezadeiras que médicos e enfermeiros. Remédio era óleo de rícino, Água Vienense, chá de arnica, erva cidreira, etc. Morria-se facilmente, poucos superavam os 50 anos. Quem passava dos 40 era considerado idoso. E eram feios, tristes, deprimidos. O sábado era dia normal de trabalho. Trabalhava-se mais de 10 horas por dia. Não havia 13º salário ben tíquetes transporte e alimentação. Não havia merenda nas escolas. Tínhamos que levar um pão com ovo de casa. Televisão, telefone, som, nem pensar. Apenas um grande rádio que precisava de antena em cima da casa para pegar uma ou outra emissora.
    Miséria bonita é essa de hoje com telefone celular, TV em HD, aparelhagens de som, computador, carro, tênis e roupa de marca.
    Essa miséria, sim, está frutificando grandes homens e mulheres. E vai frutificar muitos mais, agora, que 18 milhões estão se livrando dela e partindo para uma vida ainda melhor.

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  8. Vou discordar desta miséria atual que foi idealizada por você.
    Não vejo esta maravilha toda, parece que esta miséria que descreve é em outro país.
    A mortalidade infantil diminuir é a tendência proporcional a evolução da medicina, portanto, morriam crianças ricas e pobres de sarampo, rubéola e varíola.
    Continuamos a não ter tratamento de água em diversas localidades, bem próximas de centros urbanos.
    Valões a céu aberto, ainda é fato também em muitas e muitas localidades, isto aqui mesmo no Rio de Janeiro.
    Os tuberculosos estão preocupando o Ministério da Saúde, pois uma doença que hoje possui tratamento é disseminada por falta de remédios em postos de doenças transmissíveis e por IGNORÂNCIA da população que abandona o tratamento assim que os sintomas diminuem.
    Os postos de saúde não existiam, mas em compensação os hospitais públicos realmente atendiam, e seus profissionais eram brilhantes. Os hospitais de classe, tais como IAPC, IAPETEC, IAPI funcionavam com a qualidade disponível na época.
    O Sábado ainda é um dia normal de trabalho para muitas classes trabalhistas, a jornada sim diminuiu, mas a tal beneficie dos tíquetes, não é para todos os profissionais. O vale transporte é uma conquista real, mas o valor que temos de salário mínimo é algo inadmissível, pois tais compensações que se dizem conquistas não compensam o achatamento que ocorreu com o mesmo.
    Você acha que a merenda escolar existe por qual motivo? Ela existe, pois nenhum pai de família hoje pode sustentar o pão com ovo que levavas para escola.
    Você conhece hoje, algum vendedor que atua no comércio do subúrbio, com seis filhos, esposa dona de casa, conseguir casa própria, casa de praia, formar em universidades públicas todos estes filhos, se aposentar na empresa que foi seu primeiro trabalho de carteira assinada aos 21 anos?
    Todas as outras maravilhas que cita, como TVs, telefone, som e etc.. não fizeram falta para estas 6 crianças.
    Que pena que os maravilhosos aparelhos de comunicação que hoje fazem parte da vida cotidiana dos pobres de hoje, não os deixem longe do tráfico que hoje substituiu os tuberculosos que habitavam sua rua.
    Que pena que a escola que alimenta, não ensina.
    Que pena que a pouca carga horária do trabalhador de hoje, não consegue absorver toda a mão de obra que vive do paliativo criativo e necessário do bolsa-família.
    Que pena que tudo que descreveu em sua miséria, ainda teime em existir hoje.
    Só não vê quem não quer.

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  9. Só quis dizer que muito tem sido feito para minorar nossos índices de pobreza. Temos que reconhecer.
    Há muito ainda a fazer, é óbvio. Qual o governante que não sabe disso? Eu jamais discuto sobre o que é óbvio.
    O fato, é que a pobreza de hoje tem celular e cartão de crédito. É bem melhor do que no meu tempo. E quem falou em miséria bonita - referindo-se a minha - foi você.

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  10. Paz, paz, amigo, amigo!
    Eu falei da miséria descrita por você, que lembrou-me de misérias que conheci e que não vivi, mas que da forma como descreveu a sua, lembrou-me de minha infância que eu não reconhecia como miséria.

    Foram estes trechos que não reconheci como miséria:
    "A roupa era costurada pela minha mãe com retalhos da Fábrica Bangu."

    "Colhia cará nas cercas vivas para ensopar com bofe. Catava caruru no mato para variar o cardápio de sempre: arroz e feijão com bucho ou carne-seca. Naquele tempo, carne-seca era comida de pobre.
    Fruta era jamelão. Meu Deus! Como eu comi jamelão. Em frente a minha casa havia um enorme pé de jamelão. Comia trepado lá em cima. Era cada cacho imponente que eu imaginava ser de uva. Achava lindo, depois, a língua, os dentes e a saliva de um roxo admirável.
    Brinquedo era pião e bola de gude. Papai Noel não passava lá em casa."

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  11. Você sabe que adoro uma polêmica, mas já que você pediu paz, eu me recolho a minha insignificância.
    Contudo, em vez de sempre e somente lamentarmos a desigualdade social - cada vez menor nos últimos sete anos - por que não exaltarmos aqueles que venceram mesmo sendo pobres e negros. São inúmeros os exemplos a serem seguidos.
    Viu a Mayra Avelar - negra e favelada - discursando, hoje, em inglês na ONU em vez de viajar no Trem do Funk?

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  12. A CADA DIA QUE VIVO,ME SURPREENDO ACHANDO QUE JA HAVIA VISTO E REFLETIDO TUDO, AI CAIO EM MIM E VEJO QUE MUITO AINDA FALTA POR VER E REFLETIR.

    Claudio Rangel.
    ITACURUÇA/MANGARATIBA.

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  13. Amiga Leia. Parabéns por abordar a questão das Raízes da Miséria no Brasil exige, necessariamente, todo um esforço de pesquisa, de leitura e re-leitura de certas obras clássicas brasileiras, seja da Sociologia, da Economia ou de nossa literatura, que tornam este esforço uma tarefa quase impossível numa vintena de páginas. Este é o primeiro desafio.

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