sábado, 19 de dezembro de 2009

Dom

Hoje fiquei pensando em como uma só pessoa pode mudar o rumo da vida de outras.

Quando comecei a pensar em sociedade, fiquei muito confusa com dois aspectos que aparentemente se contradiziam.

Por um lado, venho de uma família que não é religiosa e ao mesmo tempo é de uma fé impressionante. Sempre estamos buscando caminhos que nos religuem ao início.

Assim, com momentos infinitos de aridez espiritual e outros de extrema necessidade de buscar algum sentido na vida, fomos namorando diversos segmentos religiosos, porém sem nos compromissarmos com nenhuma religião.

Tenho um irmão que foi fervoroso católico e se diz hoje um alucinado ateu e outro que tinha medo de tudo que não pudesse explicar e agora é católico de carteirinha. Tenho também a irmã, a mais linda de todas que namorou o espiritismo e se encontrou na visão de seu interior rico e lindo. Agora tenho uma que vagou pelo protestantismo, catolicismo e na umbanda e atualmente tira seus demônios nos chamados “evangélicos” e nos terreiros. Já outra se fixou na fé mestiça de crer em algum santo do catolicismo e respeitar algumas teorias do espiritismo.

Sem falar em minha mãe que apesar de não freqüentar igreja, foi a mulher de mais fé que convivi. Já meu pai tinha uma verdadeira aversão a qualquer crença.

Desta forma, tive minhas influências familiares que me antenavam a uma ou outra religião, mas que não eram suficientes para uma entrega.

Paralelamente a isto, na adolescência, conheci o aspecto social do indivíduo. Apaixonei-me pelo comunismo e repudiava qualquer elo entre o humanismo e o espiritual. Meus gurus eram Luiz Carlos Prestes, Che Guevara, Fidel, Jorge Amado, Lysâneas Maciel e tantos outros.

E a vida seguia sem dó nem piedade da pobre menina que só queria entender estes mistérios da alma e como certeza só tinha que, sem alimentar a vida, mataria a energia do espírito.

E foi então que me presentearam com o livro “O deserto é fértil” de Dom Hélder Câmara.

Este livro me acalmou as angústias e com isto, abandonei meus gurus e passei a amar Dom.

Dom é até hoje minha maior influência religiosa e social. Posso dizer que é meu estimulante quando o deserto é árido demais para suportar.

Gosto do que leio e releio de Dom. Devoro seus escritos e sua biografia.

Algumas frases que amo e são sonoras, coloridas e inundadas de perfume suave:

“Diante do colar belo como um sonho admirei, sobretudo o fio que unia as pedras e se imolava anônimo para que todas fossem um.”

"Missão é partir, sair de si, quebrar a crosta do egoísmo que nos fecha no nosso eu.

Missão é sempre partir, mas não devorar quilômetros.

É abrir-se aos outros como irmãos, descobri-los e encontrá-los.

E se, para descobri-los e encontrá-los é preciso atravessar os mares e voar lá nos céus, então missão é partir até os confins do mundo."

"Todas as revoluções não são obrigatoriamente boas (...) mas a história mostra que algumas eram necessárias e produziram bons frutos".


Dom me faz a cabeça até hoje!

Um comentário:

  1. Eu tive a grande honra de conhecê-lo. Estive pessoalmente com ele algumas vezes no Rio e uma vez em Recife. Era baixinho, manso e um grande gozador. Contava histórias muito engraçadas e aceitava brincadeiras com o maior humor. Mas, sua maior gozação é o endereço da igreja universal.

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