sábado, 20 de agosto de 2011

A barata e a sociedade

Quando era menina.....faz tempo, todos eram terríveis, digo terrível mesmo, pois ninguém escapava da falta de limites e da falta de compaixão tão comum quando se é "criança". Eram apelidos horrorosos, implicância até ver o colega dominado. Não escapava ninguém mesmo! Os estudiosos eram os CDFs, discriminados pelos populares "zoadores" que pouco se interessavam em alguma aula. Porém, em contra partida, os CDFs discriminavam os arruaceiros, deixando-os bem distante. A vingança, quase sempre era na hora de provas, pois se recusavam fornecer a cola salvadora. E todos discriminavam aqueles que eram os "esquisitos", que poderia ser um gordo, um magro, um narigudo, um peidão, um baixinho, um altão....

Mas, nada era politicamente correto, e resolvíamos as coisas na escola, que por sua vez não dava tanta importância a isto, mas conseguia manter a disciplina necessária. Professor era respeitado e sabia se fazer respeitado, inspetor era durão e nem mesmo nossos pais, questionavam a autoridade destes profissionais. Merendeiras e o pessoal de limpeza eram tratados como "tios" e conseguíamos manter assim o bom andamento no dia a dia escolar.

Porém as coisas perderam o controle e as divisões ficaram mais preocupantes, com problemas gravíssimos e começaram as "análises" do que seria admissível ou não, chegou o ECA, que é super mal interpretado, tanto por crianças e adolescentes, como por pais e professores. Também tivemos o empobrecimento do ensino público, a separação de classes sociais nas escolas, enfim, o massacre de oportunidades iguais que deveriam ser garantidas pelo estado.

Ah! Mas hoje, temos muito mais escolas, vagas garantidas para todos e consequentemente mais oportunidades asseguradas! Não é assim? Seria, se tudo isto fosse acompanhado de qualidade na educação, na formação dos educadores, na boa remuneração dos profissionais envolvidos, no investimento maior dos recursos nesta área e na boa aplicação do ECA.

Esta baboseira toda que escrevi, foi só por sentir muita pena da "barata" e perceber que tudo é feito de maneira tão superficial.... Vejam, analisam profundamente Monteiro Lobato e chegam a conclusão que ele é racista. O cara pode ter sido mesmo, mas com toda certeza, seus textos não conseguiam atingir a mensagem subliminar que talvez tentasse passar. Analisam letras infantis que cantamos desde criança e que nunca foi motivador de agressões aos animais, como o "Atirei o pau no gato", mas deixam a pobre "barata" ser vítima constante da humilhação....


E o bullying? É visto e pensado parcialmente e com soluções que não atingem os agressores ou protegem de fato as vítimas. Ora, se um grupo é agressor, ou se toma providência de fato, ou então ensinem a vítima a se proteger de fato disto tudo. Mas, o que temos são conversas com os deformados agressores, que de nada adianta, são pedidos de compreensão ao vitimado, que acaba se encolhendo, encolhendo até não poder mais.... e por vezes explodir.

Escrevo isto, por ter vivido uma experiência interessante com uma criança faz algum tempo.
Ela estudava em uma escola, em um estado onde a maioria era branca e só ela e a irmã eram mulatas. Foi discriminada por um semestre inteiro, com sua mãe indo quase que diariamente pedir para resolverem o problema e nada acontecia... a resposta era sempre de que "estamos trabalhando a cabecinha das crianças", ou "estamos trabalhando as diferenças" e a criança não podia sentar ao lado de nenhuma outra, pois pediam para retirar a "negrinha", não brincava no pátio com os demais, até que ficou sem par na festa junina. A mãe cansada disto tudo, partiu para o contra ataque. Colocou-a em um psicólogo que de nada adiantou, e quando a menina chegou chorando em casa por terem a chamado de cabelo de corda de violão, sua mãe deu uma bronca na menina, disse que se ela voltasse para casa chorando mais uma vez por isto, ela iria levar umas palmadas, pois a vida era assim e sempre encontramos pessoas sem limites e que ela tinha que aprender a se defender.

Passados alguns dias, a mãe foi chamada na escola para resolver um problema. A menina se cansou de não poder sentar do lado de ninguém e resolveu escolher o lugar onde iria sentar. Um menino empurrou a "negrinha" e ela pegou a mochilinha e lascou na cara do moleque, que caiu e machucou o nariz. A mãe do menino pediu providências e a escola alegou que a menina tinha sido agressiva..... a mãe da "negrinha" respondeu que dali por diante, a escola tinha que "trabalhar a cabecinha dela" ou "trabalhar as diferenças" com a menina, pois quem estava com problemas agora, eram os demais.....

Evidente que a menina não continuou na escola, mas nunca mais sofreu bullying..... Esta seria a solução? Claro que não, mas a omissão dos profissionais levou a mãe a tomar uma medida "pedagógica" particular.

Então, aprendi a sentir pena da "barata" e percebi que as vezes, só mesmo fazendo barulho, conseguimos entrar mais fundo nas questões que são comumente tratadas de forma tão rasteiras, somente com intuito de abafar os problemas reais....


Vamos a barata:





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