Filhos de todos nós - Realengo

Deixei passar o instante da notícia, para que conseguisse verbalizar este sofrimento coletivo que foi a tragédia em Realengo.

Todos os noticiários comentaram, todos nós tivemos nossas reações particulares e de certa forma fomos induzidos a expressar este luto coletivo, de forma estranha e até superficial.

Vi e escutei jornalistas, governador e pessoas conduzindo nossos sentimentos a uma reação que é muito conveniente ao populismo. Vi o desabafo de pessoas que perderam seus filhos, sobrinhos e netos e senti, senti mesmo uma dor muito esquisita, quase incompreensível, pois tudo aquilo foi totalmente impactante. É isto! Impactante, arrebatador e impossível de analisar.

Este momento é de fato de dor, compaixão, lágrimas e solidariedade. Só que não só de solidariedade as vítimas de ontem e suas famílias....

É leviano induzir a população a algo que aliena e superficializa fatos. Esta tragédia tem vários componetes e muitas vítimas, mas não podemos esquecer que aquele que hoje é algoz, foi vítima também.

Wellington, foi o gatilho disparado que atingiu nossa gente com toda a carga que carregou nestes 23 anos. Como um "carregador" das nossas próprias omissões como sociedade.

Iniciado no sofrimento ainda em sua gestação, recebendo doses de omissões de pais com boas intenções, mas talvez despreparados para percepção de suas necessidades especiais. Anestesiando suas angústias a cada omissão de seus educadores, a cada "pilha" dos "amiguinhos" que dividiam a mesma sala de aula...

Wellington, por suas necessidades especiais, percebia o mundo de forma não usual e reagia a ele também de forma não usual, com sua percepção alterada, transborda em violência contra pessoas e o local que simbolicamente representavam seus algozes.

Isto que escrevo, também é baseado em minha forma de percepção e não se faz verdade absoluta, é somente minha maneira de tentar equilibrar meus sentimentos e não aceitar que se use esta tragédia para abafar nossa consciência coletiva.

Um governador que não sabe o que falar, deveria calar-se para não mostrar toda sua falta de preparo. Deveria respeitar inclusive a familia daquele que ontem foi o gatilho apontado para nossa consciência.

Jornalistas que vendem dor e promovem mais alienações, ajudando assim a cadeia de deformações em nossos conceitos, poderiam ao menos participar do mea culpa que todos nós devemos fazer.

Segurança, heróis, desarmamento, monstruosidade e deformação são os temas do dia, mas esquecemos de falar de reais sensações, ações e reações. O sentir sem vingança idiota, que em nada apaga estas dores ou evitará outras.

Não é forjando heróis que nos sentiremos seguros. Não será a política de desarmamento que evitará tragédias assim, mas quem sabe a política que capacita profissionais da saúde, educação e ação social, minimizaria a possibilidade de ocorrer tal tragédia.

Wellington, não era um "meliante", era uma vítima de meliantes que nós, sociedade, fabricamos todos os dias para servir de modelos para nossa vida em coletividade.

Wellington e suas vítimas inocentes, são filhos de todos nós!