domingo, 3 de abril de 2011

Uma menina de Mangaratiba, a pule de dez.

Todo ano, ela passa suas férias escolares na casa de seus parentes. Uma parte das férias fica com o pai, outra com sua avó em uma ilha e ainda consegue alguns dias, para passar na casa de sua tia-avó. Dali ela vai para casa das primas de sua mãe para diverti-las com suas loucuras e liberdade que adquiriu durante o ano em Mangaratiba.

Tudo que por aqui falta, como shoppings, teatros, sambódromo, cinemas, zôos, museus e restaurantes interessantes ela freqüenta nas férias, e em contrapartida, entrega para estas pessoas, muito de seu aprendizado por aqui.

Parece estranho, mas as meninas de lá, já não sabem andar de bicicleta tão bem como ela, só sabem nadar em clubes, não enfrentam o mar e nem sabem como escorregar em cachoeiras. Também já não sabem correr e esfolar o joelho, não conhecem um puçá e se espantam com as mentiras de pescador da guriazinha. Então, ela é alegria das férias, tanto para os adultos, como para as crianças que já esperam a menina chegar por lá.

Quando começa a falar suas “abobrinhas”, desperta o melhor dos adultos, que identificam nela a própria infância vivida em outros tempos. E então, partem para o abraço e voltam à liberdade de nadar em praias como já não sabiam que poderiam, jogam bola em campo improvisado no play dos edifícios e riem, mas riem muito dos “causos” que ela exageradamente diz ter acontecido em Mangaratiba.

E as crianças de lá? Interessante, é que com toda civilização e informações, não conhecem a estrutura de seu lugar, como esta menina.

Quando ela conta algum episódio de campanha eleitoral, como ela caminha com bandeirolas, ou que conhece o candidato, ou fala que um vereador é ‘safado’, pois fez isto ou aquilo, as outras crianças pensam que é mentira ou ficam sem entender do que ela está falando.

Quando fala para adultos suas tolices, todos ficam admirados de como uma menina normal, sem falsa intelectualidade ou precocidade, sabe que tivemos eleições por cassação do prefeito que era “safado”, palavra que usa juntamente com “corrupto”, para ofender alguém.

Pensando bem, ela poderia ser o futuro melhor que tanto queremos para nosso país, pois leva vantagens com sua vida interiorana. Mas, para que isto aconteça de fato, é preciso que as mudanças aconteçam e que Mangaratiba invista em educação verdadeira para que as oportunidades dela sejam iguais as das crianças de municípios mais desenvolvidos. Precisaríamos também de desenvolvimento econômico sustentável em Mangaratiba, para que seus filhos não precisem vivenciar outros conhecimentos culturais fora daqui e mais tarde, queiram e possam continuar em nosso município. Ah! Não podemos esquecer que estas crianças, precisam de saúde, e o direito a isto é primordial. E para que a saúde seja plena, precisamos de saneamento básico, preservação ambiental e assim, voltamos à educação que ajudará o tal desenvolvimento...

É impossível? Não! Basta ter olhos de ver e vontade de fazer, pois nossas crianças, já levam vantagens importantes sobre as outras, e as desvantagens, só dependem dos governantes para serem transformadas em igualdade de oportunidades.

Com isto nossas crianças serão “pule de dez”.

5 comentários:

  1. ´


    Leila,

    É importante que tenhamos em mente que esse interior já não é tão interior e que há poucos metros de nós estão acontecendo coisas que parecem pontuais mas não são.
    Ainda há cachoeiras, contaminadas; ainda há praias onde vemos muitos navios; ainda andamos de bicicleta mas temos cuidado com roubos e furtos e por ai vai.
    Essa análise superficial da política também não me surpreende. Se fala muito de política em Mangaratiba (os interesses podem ser obscuros mas fala-se)e as crianças repetem o discurso dos pais.
    Cuidem bem de suas crianças pois junto com tudo de bom que temos também temos o perigo e um deles é exatamente a curiosidade.... sem ter muito o que fazer, temos altos índices de gravidez na adolescência, uso de drogas ilícitas e lícitas, etc.

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  2. Exatamente por isto tudo que você postou, pela proximidade com as mazelas dos grandes centros urbanos, porém ainda com alguma qualidade de vida, mesmo que esta esteja se deteriorando, que devemos acender o sinal de alerta para tudo que você postou.
    Temos vantagens? Inegavelmente temos! Por isto pontuei o tema em EDUCAÇÃO que minimizaria os efeitos devastadores da proximidade com aquilo que não atende a nossos interesses.

    Quanto a análise superficial de política, voltamos a vantagem em conhecer um pouco da estrutura de nosso governo, justamente por termos proximidade com os governantes e desvantagem por não termos a formação social própria para uma cidade do interior, portanto, voltamos a EDUCAÇÃO, para evitarmos a superficialidade dos discursos que sempre estão ligados a interesses que, como você cita, muitas vezes obscuros.

    As demais citações que acusa na postagem, novamente nos remetem a EDUCAÇÃO, desenvolvimento e expectativa de futuro.

    Se você pedir a um educador para que as crianças de Mangaratiba façam uma redação projetando sua vida para dez anos, se entristecerá com esta projeção...

    Então só nos resta pensar em EDUCAÇÃO, esperança, autoestima social, que levará a uma identidade cultural que perdemos ao longo dos anos.

    O grande lance de se viver em municípios como Mangaratiba é reconquistar sua identidade, agregando valores positivos, porém não sucumbindo a valores impostos por uma realidade que não atende nossas expectativas, somente por acreditarmos em um falso progresso importado que é oferecido a uma população que não tem informação e nem possui uma política educacional voltada para sua cidadania.

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  3. entendi seu modo de pensar e concordo em tudo. nossas crianças podem ter mais qualidade na vida delas se o governo contribuir com mais serviços de qualidade.Sei que temos tudo que o anonimo disse mas ainda é mais fácil viver por aqui apesar de tudo. se as cachoeiras estao poluidas, então o governo tem que ter alguma ação. se temos roubo de carros temos que ter mais segurança e se as crianças ficam sem ter o que fazer, temos que ter propostas para que se tenha o que fazer.
    Se continuar como estamos só vamos ter em mangaratiba o pior que é a falta de futuro com o resto que jogam em nosso município.

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  4. As vezes fico aqui lendo todas essas mensagens e me preocupo com tudo que aqui se expõe e me preocupo ainda mais com o fato de só ouvir e ler. Sei também que esta ou outra governança não irá nada fazer, então me entristeço por não ter recursos para agir. Agir de formas simples, mas eficazes dentro de um municipio tão pequeno. A Sra Leila muitas vezes consegue remeter-me a minha infancia pobre de favela do Rio, onde ações mínimas e insignificantes fizeram-me enxergar um horizonte maior que as vielas.Aos domingos nas praças um grupo de jovens, não lembro se da igreja local ou da Associação de moradores forrava o chão da praça com jornal e eu menina me esparramava naquela tinta que coloria minha vida.Um outro rapaz não lembro se inventava ou só dirigia as brincadeiras com bola. Outro canto se ouvia de um violão que alguem tocava enquanto outros pequenos cantores acompanhavam seu canto num coral de infância deslumbrada como que não se tinha.Alguem ensinava bola de gude, jogar triangulo e pião, e assim os finais de semana eram esperados ansiosamente, mutas vezes já na quinta feira marcavamos de nos encontrar na praça para as novas aventuras.E hoje o que vejo são estratégias,planos, projetos,ações cidadãs e nenhuma ação efetiva. Tantos recursos e tantos ladrões.Queria ter a oportunidade de reunir um grupo como aquele e desenvolver um trabalho assim que foi tão importante para minha formação. Depois de um tempo faziamos por nossa conta e vontade festas juninas, concursos de patins, dança e outras. As vezes a intervenção politica só vem atrapalhar, como aconteceu depois do sucesso que foi a iniciativa de um grupo de jovens de vielas, vieram e ofereceram ajuda financeira e receberam os méritos que não eram seus.Hoje moro aqui em Mangaratiba e a cada volta que dou pela praia, cachoeiras verifico que com tantos recursos naturais que poderiam ser convertidos em passeios, trilhas, jogos e ações que realmente mudariam a vida de nossas crianças e jovens(nossos por me sentir parte deste municipio por escolha e criação), vejo desperdiçarem tantos talentos possíveis.
    Triste futuro,triste governo que não oportuniza quem deseja fazer e massacra com teses e projetos que visam arrecadação financeira para seus bolsos e proveito próprio.A simplicidade muitas vezes é a grande solução. A educação é a solução, mas precisa de educadores comprometidos. Muitas vezes um diploma de pedagogo, professor, administrador não tem peso algum quando equilibrados na balança do amor a sua população.Não pensem que estou sendo demagogo, estou sendo concreto, real.Só quem tem amor a sua profissão sabe do que falo. Educar não é atingir metas governamentais ou para receber verbas. Educar é um ato de amor ao ser humano e a seu próximo.Não tente me convencer que projetos ou metódos farão da educação de Mangaratiba melhor.Utilizar o que temos e investir na cidadania na educação, na eficacia do ensino sem balelas ou metodologias trazidas sabe-se lá de quem irá modificar o quadro atual.Utilizar a própria experiência e recursos valorativos do municipio pode sim trazer uma nova visão social e oportunizar seus dons e talentos para nossos alunos.
    Quem sabe daqui há algum tempo poderei fazer um evento como faziamos. Se alguem quiser entrar nessa, será ótimo.Sozinha não conseguirei , mas mesmo que voce pense como posso não sei o que fazer, Voce tem um dom repasse-o. Vamos pensar e aomenos tentar.

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  5. Nossa! Mas é disto também que precisamos!
    Gostei demais e se quiser iniciar algo, pode contar comigo. Dois é melhor que um e quem sabe seremos mais e mais....

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