DOMINGÃO

Já foi tempo em que o domingo, para mim, tinha um gosto de ócio, descanso e pernas pra o ar.

Minha casa sempre foi cheia e, minha mãe com seus seis filhos, faziam deste dia o mais intenso da semana. Ou eram muito alegres, ou eram palco de conflitos de toda natureza.

O domingo servia para o combate das emoções familiares. Grupos se formavam e se desfaziam nos domingos. Conversávamos muito, mas também discutíamos muito, e assim, acabavam norteando a semana. Se tivéssemos um domingo caloroso, cheio de paz e compreensão, a semana ia de vento em popa. Mas, se grupos adversários tivessem tido um embate, a semana era toda pontuada nesta disputa.

Foram nos dias de domingo que choramos as mais tristes lágrimas da dor da separação de meus pais. Foram nos dias de domingo que sentimos a falta de dinheiro para diversão, ou para almoços mais suculentos.

Mas, também foram domingos porretas! Cheios de intensidade, quando abríamos o coração para falar de nossas causas pessoais, quando as boas gargalhadas ecoavam pela casa, por "encarnações" que uns faziam com os outros. E o melhor de tudo, era o jeito tranqüilo de minha mãe, convivendo com loucos de todas as idades. Êta lembranças!

Acostumei-me com esta sensação de recomeço que o domingo proporciona.
Hoje, as sensações de um modo geral, são diferentes, e ocupando o lugar de minha mãe, percebo que não tenho o jeitão tranqüilo dela.

Não consigo sentir o domingo como dia de ócio, nem de descanso. Porém,uma sensação ainda permanece profundamente em mim.

Domingos são dias em que a família impulsiona o ser humano a encarar os demais dias.
Seja para enfrentar a batalha do viver, ou fugir do turbilhão de emoções que aqueles a quem amamos, insistem em partilhar conosco.